Margot
Anoche entró a la
cocina.
Pinchó un higo
con el alfiler
y dijo algo,
yo no sé.
Yo dormía.
A veces es fácil
traerla de visita.
La muerte no me
queda lejos
hace falta, por
ejemplo
un kilo de higos con
su cruz
azúcar poco a poco
vigilancia.
Hacen falta unas
flores menudas color morado.
Menudas. No
pequeñas.
Anoche, entre las
sombras,
el vapor de la olla
en reposo
recorrió
habitaciones
acarició mis
libros.
Perfumó mis
cabellos como su mano posándose
en mi frente.
Calmó la duda.
Hoy los higos se
volvieron palabras
palabras traslúcidas
suaves
de un verde
brillante llegado desde el sueño
el sueño largo de
Margot.
Abrí los ojos y
envasé mis higos.
Sus higos.
Margot
A
noite foi à cozinha.
Espetou
um figo
com
um alfinete
e
disse qualquer coisa,
não
sei
Estava
a dormir.
Às
vezes é fácil trazê-la em visita.
A
morte não está longe de mim
faz
falta por exemplo
um
quilo de figos com a sua cruz
açúcar
bem doseado
vigilância.
Fazem
falta umas flores miúdas cor de amora
Miúdas.
Não pequenas.
À
noite, entre as sombras,
o
vapor da panela de pressão em repouso
percorreu
quartos
acariciou
os meus livros.
Perfumou
o meu cabelo como a sua mão hospedando-se
na
minha testa.
Acalmou
a dúvida.
Hoje
os figos tornaram-se palavras
palavras
translúcidas suaves
de
um verde brilhante vindo do sonho
o
longo sonho de Margot.
Abri
os olhos e embalei os meus figos.
Os
seus.