02 agosto 2017

christina thatcher

Now

I cry all the time
in the most inappropriate places,
even when I don’t feel sad.
My eyes leak like gasoline
from the fuel pump
you masking-taped together
in my old Granada,
or like the patio roof
you never managed to patch up
before the fire.

My body knows you’re dead.
No matter how much I know
I should not be crying
in a toilet cubicle,
in my office,
on the street when I see
people holding hands,
my body remembers
you, in the fat salty tears
which well up and spill
out, just like your laugh
when you were alive.


Agora

Estou sempre a chorar
nos lugares mais inapropriados,
mesmo quando não estou triste.
Os meus olhos gotejam como a gasolina
do tanque de combustível
que remendaste com fita-cola
no meu velho Ford Granada,
ou como o teto do pátio
que nunca conseguiste reparar
antes do incêndio.

O meu corpo sabe que estás morto
Não importa que eu saiba
que não devia estar a chorar
num cubículo de casa-de-banho,
no meu escritório,
na rua quando vejo
pessoas de mão dada
o meu corpo lembra-se
de ti, nas grossas lágrimas salgadas
que se acumulam e derramam
como o teu riso
quando estavas vivo.


01 agosto 2017

adriana schlittler kausch

[CUANDO SEA MAYOR]

Cuando sea mayor
construiré un mundo donde
las pastillas del amor
se vendan en farmacias

Pondré a secar
todo el invierno que llevo en las manos
Tendré que admitir entonces:

quise ser una flor rodeada de flores

No me apliques la condena
Ya se fue

Seré un día mayor y diré
que el cielo está sucio
y no hay orden en ser ordenado

Que llegar tarde es sólo un preludio

Que el cuento empieza cuando se acerca el final


[QUANDO FOR GRANDE]

Quando for grande
construirei um mundo onde
as pastilhas do amor
se vendam em farmácias

Porei a secar
todo o inverno que trago nas mãos
Terei que admitir então:

quis ser uma flor rodeada de flores

Não me apliques a condenação
Já passou.

Serei um dia grande e direi
que o céu está sujo
e não há ordem em ser ordenado

Que chegar tarde é apenas um prelúdio

Que a história começa quando se aproxima o final

26 julho 2017

saray pavón

El cigarro contiene mis manos
indecisas que, como niños
del tercer mundo, no tienen
otra cosa que llevarse a la boca,
ni quien les cuente un cuento.
Lo que una vez llamé casa
quedó atrás.

O cigarro contém as minhas mãos
indecisas que, como crianças
do terceiro mundo, não têm
outra coisa que levar à boca,
nem quem lhes conte uma história.
Aquilo a que una vez chamei casa
ficou para trás.



20 julho 2017

rosa alcalá

OFRENDA
Acurrucada
en la axila
tu cabeza, mi sudor

carga combustible de cohete
bautizo
desde las más profundas

capas de mi grasa. Una red
lanzada contra mí
por los estivadores

del insulto público.
Radioactiva en partes
por millones

Retardantes
de llamas

Mi leche
Te doy
como cuando

le di mi tiroides
a la industria.


OFERENDA

Aninhada
na axila
tua cabeça, meu suor

carga combustível de foguete
batizo
desde as mais profundas

capas da minha gordura. Uma rede
lançada contra mim
pelos estivadores

do insulto público.
Radioativa em partes
por milhões

Retardantes
de chamas

O meu leite
Te dou
como quando

dei as minhas tiróides
à industria.

16 julho 2017

karo castro

Ellos vendrán a salvarme

Se ocuparán de mí
me dejarán un pijama y óvulos fértiles sobre la almohada
Mi pecho emplumado
está colgado en un ropero
La vida es pequeña aquí
de una brillantez artificial
Como Ícaro no quiero derretir mis alas
por eso cacareo cada mañana sobre los huesos recogidos
para recordar entre sábanas
el olor a tierra húmeda.


Eles virão salvar-me

Ocupar-se-ão de mim
deixar-me-ão um pijama e óvulos férteis sobre a almofada
O meu peito emplumado
está pendurado num guarda-vestidos
A vida é pequena aqui
de uma brilhantismo artificial
Como Ícaro não quero derreter as minhas asas
por isso o meu cacarejar sobre os ossos recolhidos
para recordar entre lençóis
o cheiro a terra húmida.


13 julho 2017

eva gallud

carta de amor a la hermana ausente

saliste corriendo de la casa de la fiebre
saliste descalza de blanco y coronada de ortigas
miraste atrás solo para escupir
dijiste ya tengo pena suficiente
y yo temí la tala o el incendio
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
¿recuerdas aquella vez que me mordiste la lengua
y estuve dos semanas sin hablar?
en el mapa de dolores que metiste en mi bolsillo
la noche antes de perderte entre los robles
había marcadas doscientas cincuenta y seis cruces
¿te acuerdas cuando te encontré debajo de la cama
con sangre propia entre las uñas?
esperé a que volvieras mientras la lluvia
disolvía la tierra golpeaba las piedras acallaba a los pájaros
y ya estaban enfermos todos los caballos
[No voy a contaros cómo murió mi hermana porque no está muerta]
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
tumbadas blancas y apretadas sobre la greda
mi hermana la de los pies pequeños tan descalza
mi hermana la de las manos espigas tan sagrada
dejé que te acercaras y me hurgaste dentro
¿recuerdas que intenté despertarte mordiéndote en el hombro?
¿recuerdas cómo me dolía el cuerpo de tanto levantarte?
dabas las gracias a las niñas por crecer
pero yo te quise siempre con cintas en el pelo
coronada de serbales asfixiada de hojas
yo te quise siempre cerca y fría
con la boca azul llena de abejorros


carta de amor à irmã ausente

saíste a correr da casa da febre
saíste descalça de branco com coroa de urtigas
só olhaste para trás para cuspir
disseste já tenho pena suficiente
e eu temi a derrocada ou o incêndio
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
lembras-te quando me mordeste a língua
e estive duas semanas sem falar?
no mapa de dores que meteste no meu bolso
na noite antes de te perder entre os carvalhos
tinha marcado duzentos e cinquenta e seis cruzes
lembras-te quando te encontrei debaixo da cama
com o próprio sangue entre as unhas?
Esperei que voltasses enquanto a chuva
dissolvia a terra fustigava as pedras fazia calar os pássaros
e já estavam doentes todos os cavalos
(Não vos digo como morreu a minha irmã porque não está morta)
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
tombadas brancas e apertadas sobre a argila
a minha irmã a dos pés pequenos tão descalça
a minha irmã a das mãos espigas tão sagrada
deixei que te aproximasses e me penetrasses dentro
lembras-te que tentei acordar-te mordendo-te o ombro?
Lembras-te como me doía o corpo de tanto te levantar?
agradecias às meninas por cresceres
mas eu sempre te quis com fitas no cabelo
coroada de sorvas asfixiada de folhas
eu sempre te quis próxima e fria
com a boca azul cheia de abelhões


09 julho 2017

stéphanie rauschenbusch

QUASI UNA SESTINA

I crave peaches, steatopygous things with pits, peaches

unripe or ripe,

as much as divebombing wasps

crave iced coffee from my glass.

Let me taste the white, wet

sexual flesh



of Venetian peaches on the Riva degli Schiavoni

ripe or unripe,

so perfect they should be entombed in Murano glass

along with glassy wasps--

filamented green-white, wet

peaches.


I desire yellow Roman peaches

with saffron wasps

swarming on them in the Campo dei Fiori market, fleshing

out the nakedness of ripened

Caravaggios under glass.

I want to sleep and dream this muddy wet
 odor.
It isn't white. It's strained, sprained, bruised.


QUASI UNA SESTINA

Desejo ardentemente pêssegos, objetos adiposos com caroço, pêssegos
maduros, ou não,
tão fortes como as vespas que bombardeiam em mergulho
desejam ardentemente o café gelado do meu copo.
Deixem-me saborear a branca, húmida
carne sexual

dos pêssegos venezianos sobre a Riva degli Schiavoni
maduros, ou não,
tão perfeitos que deveriam ser inumados num copo de Murano
com vespas de copo -
os filamentos verde-branco, húmidos
dos pêssegos.

Desejo pêssegos romanos amarelos
com vespas de açafrão
em enxame sobre eles no mercado de Campo dei Fiori, descarnando
a nudez madura de
Caravaggios em vitrina.
Quero dormir e sonhar com este húmido e agitado
odor. Não é branco, É amassado, torcido, ferido.



01 julho 2017

pamela rahn sanchez

Cada uno busca su infierno
algunos lo encuentran
varios se atropellan
contra él
como perros
cegados por las luces de los carros
otros lo ven claramente
y huyen de él
para luego regresar a pisotearlo
como si jugaran
con lodo.

Cada um anda atrás do seu inferno
há quem o encontre
outros atropelam-se
contra ele
como cães
cegos pelos faróis dos carros
há quem o veja claramente
e dele fuja
para a seguir voltar a espezinhá-lo
como uma brincadeira
na lama.


24 junho 2017

catalina gonzález restrepo

Silencio en la mesa

Mientras masticamos la carne del abandono
alguien ha corrido una silla
para sentarse y beber con nosotros.

Vivimos en sonidos que no podemos decir,
improvisamos un concierto que jamás vendrá:
el piano suena muy alto y mis voces callan.

Morir es mejor que oír,
los músicos son niños con hambre.

Silêncio na mesa

Enquanto mastigamos a carne do abandono
alguém pegou numa cadeira
para se sentar e beber connosco.

Vivemos em sons que não conseguimos dizer,
improvisamos um concerto que jamais virá:
o piano toca muito alto e as minhas vozes calam.

Morrer é melhor que ouvir,

os músicos são crianças com fome.

21 junho 2017

natalia toledo

Yoo lidxe’

Dxi guca’ nahuiini’ guse’ ndaani’ na’ jñaa biida’
sica beeu ndaani’ ladxi’do’ guibá’.
Luuna’ stidu xiaa ni biree ndaani’ xpichu’ yaga bioongo’.
Gudxite nia’ strompi’pi’ bine’ laa za,
ne guie’ sti matamoro gúca behua xiñaa bitua’dxi riguíte nia’ ca bizana’.
Sica rucuiidxicabe benda buaa lu gubidxa zacaca gusidu lu daa,
galaa íque lagadu rasi belecrú.
Cayaca gueta suquii, cadiee doo ria’ ne guixhe, cayaca guendaró,
cayaba nisaguie guidxilayú, rucha’huidu dxuladi,
ne ndaani’ ti xiga ndo’pa’ ri de’du telayú.

Casa primeira

Em criança dormi nos braços da minha avó
como a lua no coração do céu.
A cama: algodão que saiu da fruta estragada,
Fiz das árvores azeite; e vendi aos meus amigos
como guaxinim a flor da acácia.
Tal como secam os camarões ao sol, estendíamo-nos numa trouxa
Por cima das nossas pálpebras dormia a cruz de estrelas.
Tortas feitas no barro, fios tingidos para as redes,
a comida fazia-se com a felicidade de uma morrinha sobre a terra,
batíamos o chocolate

e numa xícara enorme serviam-nos a madrugada

20 junho 2017

teresa de jesús casique

Tu padre no te espera ya. Entre cabras
y perros fue olvidando todo aquello
que alguna vez le perteneció incluida tu
fama y el último beso.

Tu casa es una trinchera de gatos
despellejados. La cama que plantaste
con tanto esfuerzo en el ático, bordeando
al mejor de los árboles, es ahora
el lugar donde copulan palomas para que
nazcan insectos.

Tu hijo se me perdió en el vientre,
no tendrá que enterrarte.

¿Cuántos pueblos liberaste? ¿Qué harás
con tanta medalla,
tantísima joya obtenidas del saqueo?
Ningún mueble quedó para adornarlo
con alguno de tus dorados trofeos.

Vienes de la guerra y qué encuentras: una
carreta llevándome

O teu pai já não te espera. Entre cabras
e cães foi esquecendo tudo aquilo
que alguma vez lhe pertenceu incluindo a tua
fama e o último beijo.

A tua casa é uma trincheira de gatos
esfolados. A cama que colocaste
com tanto esforço no sótão, bordejando
o melhor das árvores, é agora
o lugar onde as pombas copulam para que
nasçam insetos.

O teu filho perdeu-se-me no ventre,
não terá que te enterrar.

Quantos povos libertaste? Que farás
com tantas medalhas
tantas joias obtidas no saque?
Nenhum móvel ficou para ser adornado
com algum dos teus dourados troféus.

Vens da guerra e o que encontras: uma
carroça levando-me.


15 junho 2017

abril medina

Soñé mujeres sosteniendo sus vaginas
hombres devorándose los miembros
bajo el sol
llevé una mano entre mis piernas y recé
porque siguiera ahí
intacto lo profundo bajo el vello
no podía llorar
supe que los dedos mienten
que la oscuridad no tiene tacto
y cualquier abismo se parece al útero

alguien calló
entre mi cuerpo insondable
y no pude rescatarlo

ellas temían ser arrastradas
caer al vacío si separaban las piernas
cuando estaban solas
o siendo soñadas

apreté los ojos abiertos
desde adentro
y me resistí a mirar cómo se daban vuelta
para que la asfixia
no golpeara con violencia
la cuenca de los senos

ellos
sembraban genitales como minas en la tierra
se protegían del vértigo
y era la mutilación
una forma de andamiaje

algunos hurgaban
removían la herida para estar seguros
de que no se abrieran
un par de labios
bajo la sangre.

Sonhei mulheres sustentando as suas vaginas
homens a devorar os membros
debaixo do sol
pus uma mão entre as pernas e rezei
porque continuava ali
intacto o profundo sob a penugem
não conseguia chorar
soube que os dedos mentem
que a escuridão não tem tato
e qualquer abismo se parece com o útero

alguém calou
entre o meu corpo insondável
e não consegui resgatá-lo

elas temiam ser arrastadas
cair no vazio se separassem as pernas
quando estavam sozinhas
ou a ser sonhadas

apertei os olhos abertos
por dentro
resisti ver como davam a volta
para que a asfixia
não golpeasse com violência
a enseada dos seios

eles
semeavam genitais como minas na terra
protegiam-se da vertigem
era a mutilação
uma forma de andaimes

alguns mexiam
removiam a ferida para terem a certeza
de que não se abririam
um par de lábios

sob o sangue.